Antissemitismo: Londres cria rota de ônibus para judeus se sentirem seguros
- 05/09/2024
Diante do aumento dos incidentes antissemitas em Londres, a capital britânica lançou uma nova rota de ônibus destinada a ajudar os moradores judeus a “se sentirem mais seguros” durante suas viagens.
O recém-lançado ônibus circulará a cada 20 minutos, das 7h às 19h, diariamente, em áreas com duas das maiores comunidades judaicas de Londres, de acordo com relatos da mídia britânica.
A Transport for London, o órgão governamental responsável pela maior parte da rede de transporte da cidade, coletará dados sobre o uso da nova rota de ônibus antes de decidir se a tornará permanente.
"Os judeus londrinos têm medo de deixar suas casas", disse o prefeito de Londres, Sadiq Khan, ao The Jewish Chronicle.
"Portanto, essa rota direta de ônibus entre essas duas comunidades relevantes significa que você pode viajar na [linha] 310, sem precisar trocar, e se sentir mais seguro. Espero que isso leve a mais londrinos dessas comunidades a usarem o transporte público com segurança."
O prefeito foi na mesma linha quando falou à BBC de Londres.
"Fiquei impressionado com as conversas que tive nos últimos meses com a comunidade judaica", disse ele. "Eles estavam aterrorizados devido ao aumento massivo do antissemitismo desde 7 de outubro do ano passado. Fui informado sobre histórias de famílias que, ao trocar de ônibus de Stamford Hill para Golders Green em Finsbury Park, estavam apavoradas com os abusos que receberam."
Crimes de ódio antissemitas
Londres, e o Reino Unido como um todo, enfrentaram um aumento nos crimes de ódio antissemitas após o massacre perpetrado pelo grupo terrorista palestino Hamas no sul de Israel em 7 de outubro.
O Serviço de Polícia Metropolitana (MPS, sigla em inglês) registrou 2.065 incidentes de crimes de ódio antissemitas entre outubro e julho, com várias centenas desses casos ocorrendo em Barnet e Hackney.
Judeus ortodoxos na área de Stamford Hill têm sido alvos desproporcionais devido à sua visibilidade como judeus, conforme indicado por uma série de incidentes relatados pela Shomrim, uma organização judaica que monitora o antissemitismo e atua também como um grupo de vigilância do bairro.
Os incidentes incluem um judeu ortodoxo sendo agredido por um homem que andava de bicicleta na calçada, dois agressores brutalmente atacando uma mulher judia e um grupo de crianças judias sendo ameaçadas por uma mulher que gritou: "Eu vou matar todos vocês, judeus. Vocês são assassinos!"
Em outro caso, um homem confrontou um comprador judeu e gritou: "Seu judeu de merda, eu vou te matar!"
Tranquilizar os judeus
A nova rota de ônibus "conecta comunidades e congregações" e visa tranquilizar os judeus londrinos, garantindo que eles estejam "seguros ao viajar entre essas duas comunidades", afirmou Khan à BBC Londres.
"Temos ouvido histórias de londrinos judeus recebendo abusos verbais", acrescentou.
"Também ouvimos relatos de judeus londrinos que não saem de casa... porque estão preocupados com a sua segurança. Não quero que nenhum londrino tenha medo de sair de casa por causa de preocupações com o transporte público."
O prefeito continuou: “Acho que precisamos reconhecer o medo que os londrinos judeus sentem; precisamos reconhecer os tremores de ódio que são sentidos pelos judeus em todo o país. Precisamos ser bons aliados de nossos amigos e vizinhos judeus.”
O Fórum Judaico de Londres e o Conselho de Representantes dos Judeus Britânicos manifestaram apoio à nova rota de ônibus.
O gabinete do prefeito informou que a nova rota de ônibus foi implementada em resposta a solicitações de organizações judaicas que a vinham promovendo há 16 anos.
Além de Londres, o Reino Unido registrou mais incidentes antissemitas em 2023 do que em qualquer outro ano desde o início da coleta desses dados, conforme relatório da Community Security Trust, uma organização sem fins lucrativos dedicada à segurança e treinamento da comunidade judaica do país.
Os dados mostraram um aumento significativo nos incidentes antissemitas logo após as atrocidades cometidas pelo Hamas em 7 de outubro, com uma continuação desse aumento durante a subsequente guerra entre Israel e Hamas em Gaza.
